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Mundo em Débito


Eu estou no mundo

Aqui e ali, circulo por todas as partes

Daquelas mais altas das quais se olha para tudo de cima abaixo

Onde me enxergam de nariz empinado que não tenho mas ninguém acredita

Àquelas mais baixas onde me confundem com meretriz barata

Suado, camisa com botões abertos, bêbado na meia luz e desconhecidos

Não sou só extremos, apesar do prazer que sinto

Estou no mundo cotidiano também

Leio efemérides e jornais e ouço rádio de notícias

Vejo novelas e filmes, séries e entrevistas

Vou às festinhas de aniversário, aos barzinhos e promovo churrascos

Estou insistentemente presente

Constantemente, duramente, dolorosamente

No entanto, parece que o mundo não me vê e não me vem

Meus desejos são ignorados, sou interrompido nos meus projetos

Minhas investidas mais enérgicas terminam num frustrante sopro

Como um carrinho de brinquedo que gira suas rodas sobre o carpete mas não obtém tração

Faço o que posso e grito mais alto e claro o que quero

O mundo me deve e sou mau credor

Invisto, insisto, me visto e saio pelas ruas

Vou ao teu encontro, mas tu já não estás

Mando mensagens que ficam sem respostas

Procuro nas madrugadas insones um sinal teu

Minha busca risível e patética não tem sucesso

Desisto?

Mas é o mundo que me deve uma saída

Tu és só o pagamento que mereço

Tu és só o sinal de que existe algo de justo nesse deserto

De que algo pode florescer

Não creio precisar nem do verde broto cheio de beleza

Talvez saber que ele possa existir já me satisfaça

Dê-me um sinal de que minha espera não será em vão

Diga-me num sussurro ao vento, absolutamente efêmero

Que eu mantenha as esperanças de te encontrar e isso me bastará, juro

Mas não apareça porque posso não te querer

01/10/2014

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