Títere
Ao Marzagão
De tão transparentes e finos
Nunca percebera os fios
Que o sustentavam
Nem notara os pontos
Tão delicados nós
Onde se prendiam a sua pele
O títere assustou-se
Cria que seus braços se moviam
Sempre de acordo com sua vontade
Se levantava desajeitado, dormira mal
Se dançava com maestria, estava inspirado
Mentiras
Seguiu os fios com os olhos e viu uma enorme mão pálida
Fora manipulado
Por toda a sua vida, sempre o fora
Mão sem rosto
Com toda a força que tinha juntou seus fios
Com dentes, unhas e farpas de antigas feridas
Cortou-os e começou a cair
Sentiu o ar pela primeira vez
O medo e o júbilo atravessaram seu corpo livre
Em queda, tirou sua blusa
Amarrou as mangas e barras nos fios soltos
Resquícios do grande corte da sua vida
Seu grande salto
Sem saber onde aterrará
Que ventos o erguerão ou que tempestades enfrentará
Ainda hoje maneja seu velame
22/11/2016