Mea Culpa
Levo nos ombros, no peito, na alma
Toda a culpa que se pode ter no mundo
O mal é um prolongamento dos meus dedos
A fome vem da minha gula
Milhões não tem o que comer culpa do meu prato cheio
Comida que devorei com gosto e deixei sobrar
As guerras são consequências da minha raiva
Matei milhões por ódio do conforto do meu sofá
Todos que foram abusados no planeta
O foram por mim, em todos os cantos
Violei os corpos mais pueris por puro prazer
O mesmo com que fiz promessas e não cumpri
Não há promessa na história que não tenha sido quebrada por mim
Sou dos seres o mais abjeto que há
O mais desprezível, o mais repugnante
Ninguém o sabe, sou cordeiro aos olhos de todos
Preciso avisá-los para que me punam
Para que me exponham e humilhem
Devo sentir em dobro toda a dor que causei
Sou responsável por todo o sangue no asfalto
Todo atropelamento de automóvel sou o motorista bêbado
Sou a falha mecânica dos aviões a jato
Abandono as crianças com trissomias
Queimo mendigos nas ruas urbanas
Espanco inocentes amantes
Ninguém sabe
Detenham-me, linchem-me mas não me matem
Morrer seria libertação
Eu devo sofrer e não posso ser feliz, nunca
Boicoto toda chance de amor
Não mereço senão ser marcado a ferro na testa
Um sinal para que fiquem longe de mim e saibam que
Sou assassino, estelionatário, pederasta, agressor
Somente quando estiver na lama dos meus próprios dejetos
Punido por todo o mundo por todo o mal que nele há
Poderei pedir teu perdão por não ser o que deveria
Homem sério trabalhador gentil aprumado casado com três filhos e um adotado desejante apenas do que é aprovado por lei
(quais são as chances, meu desejo vai longe)
Se tu me perdoas
Quem sabe pode haver redenção até para mim
Origem de todo mal
Se ao contrário me rejeitas por completo
Agora sim devo morrer, se tu desejares
Já terei cumprido minha pena e acolherei a misericórdia do frio fim
06/03/14