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Monstros e Meninos


O peso do vazio está maior que de costume

Ficou tão grande que me prostra indefeso

Monstro do vazio maior que todas as coisas

Que dormia e no máximo roncava baixinho

Foi desperto num susto e se move agressivo

O tinha dado como morto e seus roncos eram ecos

Ressoando no abismo de um futuro incerto

Fantasia juvenil essa de superação, de monstros mortos e vencidos

De cavaleiros em brilhantes armaduras que ganham a princesa no final

A fantasia começa a ruir aí, meu cavaleiro não se interessa por princesas

Quem fantasiava não era eu, era outro, todos

O melhor que podia fazer era precisamente ser o ator do sonho alheio

Vivia desde cedo no lar da inadequação, o castigo por ela sendo o desterro

Não, não, não

Não era possível ser o cavaleiro, não aquele pelo menos

Restava o fingimento e como toda boa trama, os obstáculos de um destino cruel

E eu pensando que o monstro dessa vida vazia estava vencido

Que seus roncos eram ecos mas ele apenas dormia

Foi o mundo cutucá-lo no lugar certo que acordou com raiva e sede

Quem dera ser outro

Em outro tempo, em outro lar, em outro corpo

Queria ser aquele menino bonito

O menino que gosta de outro menino

O amor que é desinteressado

Pelo menos essa fantasia é minha

Quando me dou conta estou há horas no sofá absorto por esse menino

Olhando pelo menino que há em mim, pelo menino que eu fui

Que não tinha no colo de quem chorar seu despertencimento

Que não podia gostar do que gostava nem fazer o que queria

Que tinha para si muito amor desde que cumprisse com as metas

O menino chora junto comigo

Quero cuidar do menino que não tem lugar

Deitar com ele e sonhar com uma vida melhor

Dormir abraçado de peito nu

Me libertar do passado que não existiu

E do menino que não existe mais

11/03/2015

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