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Pesado Vazio


Teve um tempo já há algum tempo

Em que não fui o que lá era

De menino com carrinho e bola

Criança pega pega polícia ladrão

De moleque bicicleta na lama

Vivi só imaginação e hoje falta

Já menino temia temores adultos

Cuidava cuidados adultos

Como é maduro para a idade, não?

Orgulhava-me da sentença mortal da minha infância perdida

Coisas de criança eram criancices

Eu já havia sofrido dor de gente grande

Morte, choro, falta, câncer, traição

Vivia tudo isso sem nem saber que vivia

Sufocava a criança que queria brincar

Eu homenzinho tampouco fui como os outros

Gostava de outras coisas, tinha medos loucos

Todos de destruição completa do meu ser que nem era

Um estrangeiro em minha idade, em minha família

Estrangulava o que lá era, não podia ser

Era escravo de determinações do destino

Tão maior que eu, tão opressor, o destino

Com mais morte e choro e falta e coisas de gente grande

Meu destino era um rei louco bêbado

Um monarca vil e traiçoeiro

Só quando homem me tornei da minha idade

Alcancei força para destronar o destino

Defenestrei o rei e sentei no seu trono frio

Tampouco é fácil ter em mãos meu futuro

Ainda mais quando dói tanto o meu passado

Se fosse poderoso mesmo voltava para lá

Vivia tudo de novo, do meu jeito

Era criança do meu jeito e menino e rapaz

Tudo outra vez, como deveria ser desde sempre

E para sempre, até me bastar e virar homem

Hoje levo só o vazio

Onde deveria estar aquilo que não fui

Não posso mais preenchê-lo nunca mais

Somente carregar seu peso infinito

06/03/14

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